segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

O RETORNO DE KEYNES



O RETORNO TRIUNFANTE DE JONH MAYNARD KEYNES
Joseph Stiglitz (Nobel da Economia 2001)

Agora somos todos Keynesianos. Até a direita nos EUA se juntou ao grupo dos Keynesianos com um entusiasmo desenfreado e numa escala que não se podia imaginar.
Depois de nos terem deixado no deserto, praticamente ignorados, para nós, Keynesianos, este é um momento de vitória da razão sobre a ideologia e os interesses.
A teoria económica tinha-se dedicado a explicar porque é que os mercados sem obstáculos não se autocorrigem, porque razão necessitam de regulação, porque é importante o papel que o estado tinha na economia.
Quem trabalhava nos mercados financeiros pressionava pela existência de uma espécie de fundamentalismo de mercado. As políticas económicas resultantes deste entendimento já antes tinham provocado sérios problemas, sobretudo aos países em desenvolvimento. A luz vermelha acendeu-se quando estas políticas começaram a ter repercussão nos EUA e no resto dos países avançados.
Keynes defendia não só que os mercados não se autocorrigem como também que, numa crise pronunciada, a política monetária é ineficiente. Neste caso é necessária uma política fiscal.
Mas nem todas as políticas fiscais são iguais. Nos EUA, hoje, com uma grande divida imobiliária e um grande grau de incerteza, os cortes anunciados provavelmente serão ineficazes (como foram no Japão em 1990). Grande parte dos cortes tributários do passado mês foi destinada ao aforro.
Com a situação deixada por Bush, os EUA deveriam rentabilizar cada dólar. O legado de investimento em tecnologia e em infra-estruturas, especialmente do tipo verde, e a crescente brecha entre ricos e pobres requerem uma coerência entre os gastos a curto prazo e uma visão de longo prazo.
Exige-se a reestruturação dos programas tributários e de despesa. Baixar os impostos aos pobres e aumentar o subsídio de desemprego, ao mesmo tempo que se aumentam os impostos aos ricos, pode estimular a economia, reduzir o défice e diminuir a desigualdade. Reduzir os gastos de guerra no Iraque e aumentar a despesa em educação pode incrementar a produção a curto e a largo prazo e ao mesmo tempo reduzir o défice.
A Keynes preocupava-o a falta de liquidez – a incapacidade das autoridades monetárias para induzir um incremento na oferta de crédito a fim de aumentar o nível da actividade económica. Ben Barnanke fez um esforço para evitar a contracção do crédito como aconteceu na grande depressão. Deveríamos, no entanto, ler a história com cuidado. Preservar as instituições financeiras não é um fim em si mesmo, senão um meio par alcançar um fim. O importante é o fluxo de crédito; a razão pela qual o fracasso dos bancos na grande depressão foi importante deveu-se ao facto de serem eles a determinar a capacidade creditícia. Eles detinham a informação sobre o fluxo de crédito.
Os bancos mudaram muito desde a grande depressão. Centraram-se na compra e venda de activos e não avaliavam devidamente os riscos. Investiram-se milhões a manter instituições disfuncionais. As recompensas privadas dos bancos excediam os seus benefícios sociais. Muito pouco se está a fazer, entretanto, para que os bancos façam o que devem: emprestar dinheiro a quem pode devolvê-lo.
O governo federal assumiu milhares de milhões de dólares em passivos e riscos. E o retorno deste “investimento”? O dinheiro que Bernanke colocou nos bancos foram desvantajosos para os contribuintes e fez pouco para reactivar o crédito.
A desregulação financeira beneficiou grandes bancos americanos. Eles venderam no estrangeiro produtos financeiros de valor duvidoso e participaram numa especulação global. Isto acabou por ter custos para os outros.
Hoje o risco é que se use e abuse das ideias Keynesianas. Os que quiseram a desregulação há dez anos atrás aprenderam a lição? Ou simplesmente querem reformas cosméticas?
Hoje, no entanto, seguir políticas Keynesians parece mais rentável do que seguir fundamentalismos de mercado. Há 10 anos, quando se vivia a crise financeira asiática, discutia-se muito sobre a necessidade de reformar o sistema financeiro global. Pouco se fez. É preciso actuar agora se queremos uma economia mundial mais estável, próspera e equitativa.